terça-feira, 6 de julho de 2010

Freud e a Educação


Arquivado em: Freud, Psicanalise — admin @ 5:55 pm
Autor: Maria Cristina KupferTítulo: Freud e a EducaçãoFonte: KUPFER, Maria Cristina. Freud e a Educação. O mestre do impossível. São Paulo: Scipione, 1992.


Capítulo 2


Uma história de casamentos desfeitos: A aplicação da Psicanálise à Educação

Foram pelo menos três as direções tomadas pelos teóricos interessados no casamento da Psicanálise com a Educação.
A primeira foi a tentativa de criar uma nova disciplina, a Pedagogia Psicanalítica, empreendida principalmente por Oskar Pfister e Hans Zulliger, na Suíça, no início do século XX.
A segunda consistiu no esforço a que se dedicaram alguns analistas para transmitir a pais e professores a teoria psicanalítica, imaginando que estes, de posse desse conhecimento, pudessem evitar que as neuroses se instalassem em seus filhos e alunos. Anna Freud, a filha de Freud, foi a principal representante desse grupo, não tendo medido esforços no sentido de levar aos professores o modo psicanalítico de ver a criança. Na Inglaterra, Melanie Klein e seus discípulos dedicaram-se também a obras de divulgação da Psicanálise para pais.
A crítica literária passou a adotar referenciais psicanalíticos, o cinema nutriu-se intensamente de alusões ao inconsciente, às identificações e a outros temas psicanalíticos. E, através de um movimento de troca, matemáticos, lingüistas, físicos, forneceram novas bases teóricas em que a moderna Psicanálise se apoiou.
É nessa última vertente que o presente livro espera poder incluir os educadores. Pois, embora o “derramamento” da Psicanálise sobre a cultura tenha sido amplo, não chegou a atingir de modo significativo os educadores brasileiros.
Antes de abordar, com alguma atenção, cada uma dessas direções, será necessário registrar alguma coisa sobre a difusão das idéias freudianas na época em que elas estavam em construção, ou seja, nas primeiras quatro décadas do século XX. É a partir dessa difusão que se formou a idéia que se tem hoje, vulgarmente, da Psicanálise.
A difusão das idéias freudianas
O leitor familiarizado com os textos de divulgação das idéias freudianas terá certamente reconhecido nas pulsões parciais um parentesco com as conhecidas fase oral, anal e fálica. De modo geral, o que se transmite é que Freud é o responsável pela descrição do desenvolvimento afetivo-emocional das crianças. Esse desenvolvimento, ainda segundo os textos de divulgação, começaria com uma fase oral, onde predominam os interesses ligados à boca (amamentação, sucção), uma fase anal, onde os interesses se ligam ao prazer de defecar e de manipular as fezes, e uma fase fálica, em que a criança passa a se interessar pela existência do pênis. Tais fases se relacionam à predominância de uma determinada pulsão parcial, responsável pela emergência do interesse a ela correspondente.
De fato, as bases para a descrição das fases de desenvolvimento são freudianas, mas sua formulação se deve na verdade a um de seus discípulos, Karl Abraham. No entanto, a idéia de uma descrição do desenvolvimento afetivoemocional está distante do pensamento de Freud. Talvez essa categoria, a do desenvolvimento emocional, tenha sido criada para marcar uma oposição em relação às descrições pedagógicas basicamente cognitivas ou intelectuais. Querse entender como uma criança? Leia-se Piaget. Quer-se entender o que é que sente uma criança, ou por que é agressiva? Leia-se Freud.
Freud não pretendeu descrever nada parecido com o “desenvolvimento emocional de uma criança”. No entanto, é assim que sua teoria está identificada em nosso meio. Naturalmente, deve-se esperar que em toda divulgação de idéias haja uma perda de exatidão. Um corpo que se desloca acaba por perder aceleração em decorrência da ação do atrito. Embora natural, tal constatação não deve impedir-nos de tentar resgatar essa exatidão.
Freud queria, de fato, que sua teoria constituísse, entre outras coisas, um modelo da construção dos processos através dos quais um indivíduo se torna um ser sexuado. Já que uma de suas descobertas mais importantes foi a idéia de que a sexualidade se constrói, não sendo determinada pela Biologia – os homossexuais está aí para comprová-lo –, então era natural que ele se interessasse em descrever essa construção. Para isso, lançou mão de grandes conjuntos conceituais. Entre eles, destacam-se a teoria das pulsões e o complexo de Édipo.
(…)
O texto integral encontra-se na fonte indicada acima

Nenhum comentário:

Postar um comentário